Escritas cartográficas. Caderno Rumos.
Luana Costa, 2011-2012.
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Caros tripulantes sejam bem-vindos.
Peço-lhes neste inexato instante que tragam às mãos epitélios e ouvidos atentos
a fim de escutar bem os sons que ecoam por entre este órgão que levo entre as
costelas. O que aqui se ouvirá será nada menos que os cantos de uma
poeta a conduzir-lhes por entre as artérias das cidades
contemporâneas que atravesso. Para tal façanha – e como Baudelaire, o maldito -
quero também deixar meu coração a nu, abrir suas cavidades afim de que o leitor
encontre nas palavras que se escreverão meu próprio sangue e minha própria carne.
Sangue & carne de uma cancioneira do povo vinda de um Estado chamado Mato
Grosso e cujas canções provém de um Mundo Terceiro nomeado Brasil. Sangue e Carne
de uma poeta que escolheu assumir-se como poeta-guerreira e mulher no contemporâneo enfrentando
todos os malogros que advém de seu posicionamento e desejo de consciência de si; Sangue e Carne de uma cancioneira
do povo desempregada do Mundo e que mesmo tendo fome oferece os rubis de sua miséria; Sangue
e Carne de uma poeta que deu-se o direito de formular contradições, assumir-se
como minoria, descarnar desigualdades, experimentar, (re)inventar e sitiar
a cidade que percorre através de ações que com águas vermelhas batizamos "guerrilha poética em atos" buscando mesmo
vivificar os sentidos da poesia enquanto um "fazer" e um
"agir" - do grego poiesis, poesia em seu sentido etimológico está ligada ao verbo "fazer"
e é portanto ação; será através do agir, da vivência poética plena e em
todas as instâncias da vida desta poeta que vos canta que ouvir-se-á alinhavadas
por entre as letras das escrituras a porvir, Poemas em Verso e Prosa, erguidos do embate com as Cidades que percorro em busca de espaços que chamo “territórios de abrigo” - nome este criado tendo
gustação no texto Mundo-Abrigo (1973) do artista carioca Hélio Oiticica - além
da contínua partilha das fotografias tiradas das ocupações nesses territórios, bem como os desdobramentos que advém dessas imagens. As portas do meu peito estão abertas para que entrem. Uma vez nas cavidades
de meu coração, do meu corpo façam Pão e do meu sangue façam Vinho. Que as
palavras que aqui virão, incite também a fome que há em seus corações.
Luana Costa, 25/10/2012, tarde, Niterói-RJ.
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